Casal gay se une em cerimônia religiosa em São Paulo
Terra
Rafael e Felipeh se casaram seguindo os preceitos do candomblé
Ao som de atabaques e sob os olhares atentos de cerca de 370 convidados, o jornalista Felipeh Campos, 34 anos, e o produtor de moda Rafael Scapucim, 26, se casaram em cerimônia religiosa realizada na última quinta-feira, em São Paulo.
Os noivos, que namoram há cinco anos, fizeram questão de manter a tradição, e chegaram ao local com cerca de 40 minutos de atraso. Assediados por jornalistas e fotógrafos, o casal só conseguiu iniciar a cerimônia cerca de 15 minutos depois.
Vestindo batas brancas e descalços, os noivos traziam nas mãos terços de pimenta vermelha. Na cabeça, ambos ostentavam coroas de folhas enfeitadas com a ecodidé, pena de uma ave sagrada para o candomblé que, segundo eles, só pode ser encontrada na Nigéria.
Rafael e Felipeh caminharam até o altar acompanhados de suas respectivas mães, Valéria Aparecida e Maria de Fátima, que não escondiam a emoção de verem seus filhos oficializarem a união.
"Eles estão realizando um sonho e estou muito feliz pelos dois. Nunca tive problemas com a opção sexual do meu filho e acho que quem não os aceita deve ao menos respeitá-los", afirmou a mãe de Rafael. "Se Felipeh está feliz, eu também só posso estar contente", completou Maria de Fátima, que levou as alianças até o altar.
Tradição e modernidade
O casamento foi celebrado por Pai Cido de Oxum, que ministrou o ritual orientado pelo candomblé, religião dos noivos.
Durante a cerimônia, com cânticos entoados por um coral de baianas, o babalorixá falou sobre a importância do respeito às diferenças. "O sexo dos noivos não importa, o que interessa é o amor. A natureza não tem sexo", resumiu.
Outros casais gays aproveitaram o clima de romance para reafirmarem seu amor, com carinhos e beijos discretos. Sem conseguirem segurar as lágrimas, os noivos seguiram à risca a tradição: trocaram alianças e celebraram o enlace com um beijo apaixonado.
A benção matrimonial que diz que os recém-casados devem ficar juntos "até que a morte os separe", porém, foi substituída por uma frase mais realista. "Sejam felizes, e no dia que o amor não mais existir, se afastem sem mágoas e sem rancor", pediu o Pai Cido de Oxum.
Com uma pomba branca nas mãos, Felipeh e Rafael deixaram o altar sob uma chuva de arroz cor-de-rosa e caminharam até a rua, onde libertaram o pássaro sob os aplausos dos convidados.
O casamento foi acompanhado por convidados famosos, como as ex-BBBs Íris Stefanelli e Jaqueline Khury e a musa de Vinícius de Morais, Helô Pinheiro.
"Conheço Felipeh há muitos anos e fiz questão de estar aqui, para prestigiar a alegria deles. A vida é muito curta, temos que celebrar sem preconceitos", afirmou a eterna Garota de Ipanema.
Festa à brasileira
Logo após a cerimônia religiosa, a pista de dança foi tomada pelos convidados, que dançaram ao som de hits como I Will Survive e YMCA. No cardápio, pratos tipicamente brasileiros como arroz carreteiro, feijão tropeiro e escondidinho.
Pouco antes de cortar o bolo - decorado com bonequinhos representando os noivos -, Felipeh surpreendeu ao subir ao palco para cantar a música É Preciso Saber Viver, de Roberto Carlos, ao lado do marido, Rafael.
Além dos tradicionais bem-casados, envoltos com fitas do Senhor do Bonfim, os convidados do casamento foram brindados com pastilhas de chocolate em pequenas garrafinhas de vidro, chamadas de "pílulas do amor".
"Queríamos brincar com o espírito lúdico do amor. Quem tomar a pílula vai se contaminar com a paixão e alegria que sentimos", contou Felipeh.
Sonhos comuns
Os recém-casados embarcam hoje para a lua de mel em São Francisco, nos Estados Unidos. Apesar da originalidade da celebração, os desejos da dupla são idênticos aos de outros casais que oficializam suas uniões diariamente.
"Estou realizado. Agora só quero mesmo ser feliz e trabalhar muito. Mais para frente, pretendemos adotar uma criança", finalizou Felipeh, emocionado.